"ela chora de alegria quando nos recebe em sua casa.
moramos a quase 400 km de lá, então a vejo no máximo uma vez por ano.
Lila viu minha mãe crescer. Foi uma boa vizinha e amiga, e até hoje sua dedicação se faz notar. Nos seus olhos, suas lágrimas e no café que faz com tanto gosto enquanto nos obriga a sentar e conversar.
tudo em seu lar é tão humilde e, ao mesmo tempo, tão acolhedor. Desde a mesa de toalha plástica xadrez ao bolo de fubá orgânico, maravilhoso.
quando vou para lá me sinto tão bem ... Até seus cachorros acompanhando o amor e a hospitalidade da dona, nos recebem aos pulos e lambidas. As árvores de seu jardim perfumam o ar e enfeitam a vista da humilde casinha de tijolos desgastados, e chão de cera vermelha.
o fogão a lenha, o bule ao invés da garrafa térmica, o relógio de parede barroco, barulhento, com pesados pêndulos em forma de banana, cor de bronze.
Acho que consigo entender por que me sinto tão bem por lá: Lila é a pessoa de quem me lembro com mais ternura, agora que minhas visitas à pequena cidade de Bernardino de Campos se tornaram mais raras.
E, de tudo, o que mais me marcou foi seu amor ao nos receber todas as vezes que estivemos por lá. beijos carinhosos no rosto e os apertões nas minhas bochechas: "Que lindeza, como ela cresceeeeeu, mariinha !!" (minha mãe se chama Maria).
Lila masca carvão, não sei dizer porquê. está sempre de chinelos de dedo e aquele vestido florido, paupérrimo... Os olhos azuis, lacrimejantes, denunciam o peso da idade, a saúde já indo embora ...
mas Lila é a pessoa mais amorosa que já conheci.
e eu não me sentiria tão confortável instalada num hotel de luxo a degustar caviar como me sinto em sua casa, com os cachorros roçando minhas pernas por debaixo da mesa e me matando de susto, e o cheiro do café fresco, passado em coador de pano e servido com bolo de fubá na mesa de toalha xadrez. "